Criciúma: pesquisa investiga efeitos de produtos à base de cannabis em pessoas com Parkinson
Estudo busca evidências científicas na melhora da qualidade de vida dos pacientes
Foto: Jessica Rosso Crepaldi/Portal Engeplus
Em Criciúma, um grupo de professores, cientistas e pesquisadores da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) está desenvolvendo um projeto de pesquisa sobre os efeitos dos produtos à base de cannabis, a planta medicinal popularmente conhecida como maconha, em pacientes com a doença de Parkinson. O estudo tem como finalidade melhorar a qualidade de vida da população e entregar um resultado com evidência científica.
De acordo com a fisioterapeuta, colaboradora do projeto de extensão da Unesc - o ProPark e cientista e pesquisadora Rubya Zaccaron, a iniciativa foi desenvolvida no fim do ano passado e foi projetada nos últimos seis meses, no Laboratório de Fisiopatologia Experimental, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Unesc. No projeto, também estão envolvidos os pesquisadores Carlos Victor Rigobelo, Ariete Minetto Paulo César Lock Silveira, Flávia Rigo e Luciano Acordi.
O intuito desse trabalho é avaliar diferentes medicamentos e diferentes formulações à base de cannabis, nos sintomas relacionados à doença de Parkinson, como rigidez muscular, sono, depressão, ansiedade, entre outros. "Isso se faz necessário para definir melhor a dose, para avaliar um número maior de pacientes, para que o grupo possa publicar esses dados, e para que isso facilite outros clínicos a utilizarem a pesquisa para melhorar cada vez mais o tratamento desses pacientes", disse a professora, farmacêutica e doutora Flávia Karine Rigo.
Ouça no áudio o que a profissional fala mais detalhadamente sobre a cannabis, sobre os compostos químicos presentes nessa planta medicinal; e o que se sabe até o momento sobre o uso dela, além da finalidade da pesquisa:
Segundo Flávia, hoje existem mais de 20 medicamentos de cannabis aprovados pela Anvisa. "Existem medicamentos que têm uma concentração um pouco maior de THC [composto da planta cannabis], outras têm uma concentração maior de cannabigerol [outro composto da cannabis], que a gente já viu que funciona muito sobre a dor de várias etiologias, inclusive a dor do Parkinson, nos pacientes com Parkinson, que apresentam vários tipos de dores musculares, musculosqueléticas, neuropáticas. Então, a melhor escolha desse medicamento é importante, porque prescrever a cannabis não é como prescrever Rivotril, que a gente dá uma dose, ele vai usando, vai precisar aumentando a dose. Ou Fluoxetina, que vai manter sempre a mesma dose e é sempre o mesmo medicamento, não. O que existe é que temos que escolher o melhor produto e titular personalizado, ou seja, cada paciente vai ter sua dose, avaliando os seus efeitos terapêuticos, efeitos adversos, como sonolência, o aumento do trânsito intestinal, que vai sendo ajustado conforme a dose que aquele paciente necessite", pontuou.
Aprovação da pesquisa pelo comitê de ética
Conforme a cientista e pesquisadora Rubya Zaccaron, toda pesquisa clínica passa por um comitê de ética, que vai avaliar se a mesma está de acordo com as conformidades e normas internacionais e nacionais para aplicação de estudos em humano. No caso desta pesquisa, ela já passou pela avaliação criteriosa do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da universidade, e foi aprovada.
Nos últimos meses, o grupo organizou a parte metodológica, e agora iniciará uma nova fase que durará cerca de três meses. “A nossa missão é unir a extensão e a pesquisa e trazer a melhor evidência possível”, afirmou Rubya Zaccaron.
Quem poderá participar da pesquisa?
Os interessados em participar devem atender alguns critérios, sendo o principal, ter a Classificação Internacional de Doenças (CID) da doença de Parkinson, e os mesmos irão passar por uma avaliação inicial. Outro ponto importante é estar apto para a realização de exercícios físicos.
“Essa avaliação é funcional, física, saber como está a aptidão, qual a frequência de tremores, como estão os efeitos motores, qualidade do sono, qualidade de saúde mental, tudo isso será avaliado inicialmente. Depois desses três meses de intervenção, nós reavaliamos todo mundo a fim de comparar como o indivíduo estava no início e como ele estava no final. E se essa diferença foi significativa com a intervenção do cannabis e o exercício”, ressaltou.
Para participar ou ter mais informações sobre o estudo basta entrar em contato com a pesquisadora por meio do Laboratório de Fisiotopatologia Experimental, na Unesc, ou no telefone (48) 9600-5715 (Rubya Zaccaron), ou de segunda a quarta, na sala de dança do Bloco da Educação Física, no projeto ProPark.
Rubya ainda comentou que a rotina do projeto ProPark, que é conduzido pelo curso de Fisioterapia, com atividades físicas, motoras e habilidades funcionais, seguirá normalmente, e portanto as pessoas que não se enquadrarem nos critérios de inclusão da pesquisa permanecem participando das atividades paralelas do grupo.
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Impacto na vida das pessoas
Rubya afirma que a pesquisa pode impactar tanto no acesso e facilitar a descrição dos efeitos dos produtos de cannabis no tratamento da doença de Parkinson. De acordo com a profissional é preciso estudos, evidências e também é necessário quebrar 'tabus' sobre o assunto.
"Acredito que principalmente é preciso conscientizar a população, mas trazer à luz as evidências, porque a gente também não sabe quais são os resultados dessa pesquisa, nós temos uma boa pergunta e é isso. A resposta nós veremos daqui para frente, mas a nossa intenção é tornar o mais claro possível para a comunidade".
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Rubya Zaccaron
Pesquisa é pioneira na região
A pesquisa possui vários embasamentos da parte experimental. Porém, a profissional esclarece que a cannabis não é de fácil acesso nem para pesquisas experimentais. "Houve um período da ciência que parou-se de estudar produtos a base de cannabis, com difícil acesso para a parte científica. Então, há um retorno dos estudos nos últimos anos. Na região, nós não temos nada similar. Aqui na universidade [Unesc] é um estudo pioneiro, que visa unir pesquisa e extensão. Algo que estamos bastante satisfeitos, felizes em realizar, pois será um passo na pesquisa translacional", afirmou.
Grupo tem intenção de fazer publicação internacional
Conforme o resultado da pesquisa, o grupo vai saber o quão recomendável é esse tipo de tratamento. "Muitas vezes funciona para um indivíduo, mas não funciona para o outro e aqui a gente quer ver o que funciona numa grande comunidade. Porque nós temos um bom número de participantes e a gente quer aumentar esse número, mas dependendo dos resultados acredito que nós vamos ter o impacto na comunidade científica". Rubya disse que o grupo tem a intenção de fazer uma publicação internacional após o resultado da pesquisa.
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