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A missão de Acélio Casagrande com a saúde pública

Atualmente ele é secretário de Saúde de Criciúma há cerca de 10 meses
A missão de Acélio Casagrande com a saúde pública
Foto: Rafaela Custódio / Portal Engeplus
Por Rafaela Custódio Em 08/04/2020 às 12:38

Qual a missão de vida de uma pessoa? Ter uma família? Ser um bom profissional? Construir valores? A história de Acélio Casagrande pode ser tudo isso, mas até aqui um dos destaques foi ter dedicado sua vida à saúde pública de Santa Catarina. Atualmente, ele é secretário da pasta de Criciúma há cerca de 10 meses.

Casagrande já esteve à frente da Secretaria de Saúde de Criciúma em outras duas oportunidades. A nível estadual, foi secretário de Estado da Saúde em 2018. Também já ocupou a função de diretor executivo da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec). 

O secretário de Saúde de 58 anos é natural de Criciúma e cresceu no bairro Sangão. Ele é formado em Técnico em Contabilidade (1981), pela Escola Técnica de Comércio de Criciúma, graduado em Administração pela Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid), e pós-graduado, com MBA, em Gestão Pública (2014-2015) pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).


Foto: Douglas Saviato/SAN 

Afinal, quando ele entrou para a Saúde Pública? 

A vida de Acélio começou a mudar aos 14 anos. Ainda adolescente, ele trabalhava na agricultura, ficava muito exposto ao clima e pegou uma pneumonia. O criciumense precisou de atendimento médico após estar com febre e sua família o levou até o Hospital São José. 

“Lembro que fiquei um tempo esperando atendimento. Tive que ficar internado por 15 dias e desde então pensei que não queria que ninguém passasse pelo o que minha família passou no hospital. Não queria ver as pessoas sofrendo. Foi um sinal divino e sabia que ali iniciava uma missão”, lembra. 

Casagrande conta que ainda jovem começou a ajudar as pessoas do bairro Sangão, onde morava. Ele relata que a localidade em que morava possuía a carência dos munícipes, e por isso filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com intuito de ajudar sua comunidade. Com o apoio do prefeito da época, José Augusto Hülse, inaugurou um Posto de Saúde.

“Já tive esse ato visando a população. Ali comecei minha vida pública e também política. Mas trabalhei por mais de 15 anos na iniciativa privada, como contabilista, e atuei em almoxarifado também”, comenta. 

Ele entrou para a Secretaria de Saúde em 1993 e de forma interina. “Trabalhava durante a semana em empresa privada e nos fins de semanas fazia campanha para o Eduardo Moreira, que era candidato a prefeito de Criciúma. Me dediquei durante alguns meses à sua campanha. Após ele chegar à prefeitura, me convidou para atuar como Chefe de Gabinete. Depois de alguns meses, fui convidado para assumir a Secretaria de Saúde de Criciúma. Na época o doutor Borba deixou a pasta e quando fui assumir, acabei não sendo bem recebido pelos profissionais por não ser da área. Três meses depois, fui efetivado e minha paixão pela saúde pública só aumentou”, conta. 

O criciumense pontua que sempre buscou pessoas técnicas para formar sua gestão e isso o ajudou. “Ainda em 1993 começamos a trabalhar as necessidades do município. A atual reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Luciane Ceretta, fazia parte da minha equipe. Na época eu também possuía no meu time uma médica cubana com muita experiência na saúde da família”, relata. 

“Sempre me preocupei com o próximo. Busquei e busco me colocar no lugar das pessoas”.
Acélio Casagrande
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Em Cuba, sua primeira missão 

Em 1994, Acélio foi convidado pelo Ministério da Saúde por meio da Universidade Federal de Santa Catarina para ir a Cuba. “Junto com o doutor Antonelli e também Márcio Arcângelo Zaccaron fui para Cuba. Conhecemos os programas do país e voltamos com muitas ideias. Aplicamos em Criciúma o programa Saúde de Família que aprendemos lá. A intenção foi aproximar os profissionais da saúde com as famílias criciumenses. Criamos ainda o Disque Ambulância, que depois seria o número do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ou seja, telefone 192”, garante.

Criciúma mais uma vez seria pioneira em Santa Catarina e também no Brasil em saúde. Foi na Capital do Carvão que se instalaram, nos bairros Próspera e Boa Vista, os prontos-atendimentos 24 horas. “Sugeri ao Ministério da Saúde que instalassem unidades assim pelo país, mas foram criadas as Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A cidade também possui uma no bairro Próspera e está em construção da segunda no distrito do Rio Maina”, afirma Casagrande.


Foto: Rafaela Custódio | Obras da UPA do Rio Maina 

Política também corre nas veias de Acélio Casagrande

A primeira eleição para vereador de Acélio foi em 2000. Ele foi o parlamentar mais votado de Criciúma e recebeu cerca de 3,9 mil votos. “As pessoas começaram a reconhecer meu trabalho, minha gestão na saúde e acreditaram no meu trabalho como vereador. Foi algo mágico poder assumir uma cadeira na Câmara de Criciúma”, lembra. 

Acélio deixou a Câmara de Criciúma para trabalhar com o então governador Luiz Henrique da Silveira. “Assumi como Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional da Mesorregião de Criciúma, de 2003 a 2006. Foi uma gestão a ser guardada com muito carinho, pois conseguimos diversos equipamentos para a saúde do Sul do Estado”, pontua. 


Foto: Rafaela Custódio 

“Conseguimos equipamentos de radiologia que é atualmente um dos melhores do mundo para o Hospital São José, conseguimos novos leitos para a Unidade de terapia intensiva (UTI). Tudo isso foi com muito esforço e por me dedicar tanto a saúde”, relata.

Ainda segundo Acélio, ele tem uma história com o Hospital Materno-Infantil Santa Catarina (HMISC) de Criciúma. “Em 1997 a unidade fechou por diversos problemas, mas nós conseguimos reabrir em 24 horas com articulações do Ministério da Saúde e já foi um ato importante. Já em 2018, nós voltamos a inaugurar a nova ala do hospital. O mundo girou, girou e continuei ajudando, cumprindo a missão que descobri quando tinha 14 anos”. 

Casagrande ainda candidatou-se à vaga de deputado federal por Santa Catarina, pelo PMDB, ficou na suplência e foi convocado em março de 2007 para a assumir o cargo. Pediu para se licenciar do mandato para ser Secretário de Desenvolvimento Regional de Criciúma, em 1º de agosto de 2007. 

No pleito de 2008, concorreu ao cargo de Prefeito de Criciúma, pelo mesmo partido, conquistou 22.578 votos, foi o terceiro na preferência dos 132.007 eleitores do município naquela eleição. Voltou a assumir o cargo de Deputado Federal, de 20 de junho a 9 de outubro de 2008, em função da licença dos Deputados Djalma Berger e Paulo Bauer.

Já nas eleições de 2010, candidatou-se à vaga de deputado estadual ao parlamento catarinense e não foi eleito. Ocupou os cargos de Secretário Estadual de Articulação Nacional (2011-2012) e de Secretário Adjunto da Secretaria da Saúde (2012-2015). Em 2016, concorreu para Vice-Prefeito de Criciúma e não foi eleito. 


Foto: Jhulian Pereira / Prefeitura Criciúma

Sistema Único de Saúde: bom ou ruim? 

O Sistema Único de Saúde (SUS) possui problemas? Acélio diz que sim, mas defende o programa e garante que é o melhor projeto de saúde desenvolvido no mundo. “Obviamente o SUS precisa melhorar, como diversos outros segmentos do governo. Precisamos de mais verbas para a saúde. Mas o questionamento é: e se não existisse o Sistema Único de Saúde, o que seria das pessoas?”, questiona. 

“Sou um defensor do SUS e sempre serei. Imagina nesta época de pandemia, o que as pessoas fariam se não existissem os Centros de Triagem? As Unidades Básicas de Saúde, os hospitais públicos? Temos que pensar em tudo isso”, comenta. 

Casagrande afirma que é necessário, sim, que sejam feitas melhoras no Sistema Único de Saúde, mas garante que o SUS precisa ser mais defendido pelos brasileiros. 

A pior crise já enfrentada no mundo: o coronavírus e as percepções de Acélio Casagrande 

A história de Acélio com a saúde teria uma pausa neste ano. Isto porque ele tinha a intenção de concorrer à eleição municipal como candidato a vereador, mas desistiu para continuar à frente da Secretaria de Saúde e enfrentar o coronavírus (Covid-19). 

“O ser humano Acélio não conseguiria dormir sabendo que a saúde de Criciúma precisa de mim. Não conseguiria mesmo, de coração. Abdiquei de um desejo para seguir em frente e junto com a minha equipe de profissionais vencermos essa pandemia. Porque sim, nós vamos vencer”, declara. 


Foto: Rafaela Custódio 

Com Acélio à frente da saúde de Criciúma, a Capital do Carvão voltou a ser referência para o Brasil. “Fomos pioneiros em relação aos Centros de Triagem. Abrimos primeiro na área Central ao lado do Hospital São José e depois no bairro Boa Vista. Diversos secretários de Saúde de municípios vizinhos nos procuraram. Pessoas de outros Estados nos ligaram e pediram informações”, afirma. “Ainda estamos reformando a Casa de Saúde do Rio Maina, o que é também inovador de alguma maneira. Entregaremos nos próximos dias 40 leitos, porém ao total serão 170”, completa. 

Acélio conta que a deputada federal Carmen Zanotto que está trabalhando com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, conversa todos os dias com o secretário de Criciúma. “Por telefone, conversamos todas as noites. Conto o que estamos fazendo na cidade e até mesmo na região. Trocamos informações, mas é um contato muito válido, principalmente se notarmos que Criciúma está sendo referência no país”, analisa. 

Desde o início das medidas preventivas, a Secretaria de Saúde participa de ações como:

- Criação dos Centros de Triagem na região central e no bairro Boa Vista;
- Reestruturação da antiga Casa de Saúde do Rio Maina para servir de retaguarda para tratamento de pessoas contaminadas com o novo coronavírus;
- Publicação diária do boletim epidemiológico no site específico do município para tratar da Covid-19: covid19.criciuma.sc.gov.br;
- Parceria com a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) nos serviços de teletriagem;
- Prioridade para idosos da maior faixa etária e acamados nas primeiras etapas de vacinação contra influenza; 
- Desinfecção de pontos estratégicos do município;
- Acompanhamento do quadro clínico de suspeitos e confirmados com a Covid-19, durante a quarentena, com o trabalho envolvendo profissionais da saúde;
- Compra de testes rápidos para profissionais da saúde;
- Orientações preventivas para população em combate à Covid-19;
- Auxílio na arrecadação de doação financeiras e de itens de higiene.

Avaliação de sua carreira 

Ao terminar de contar sua trajetória ao Portal Engeplus, Acélio se emocionou e garantiu que até aqui tentou cumprir com sua missão. “Pode não ter sido 100% como eu queria, pode. Mas me sinto realizado, fiz muito pela população e vou continuar fazendo. Olhando para trás só consigo perceber o tanto que caminhei, lutei e abracei a saúde para chegar onde estamos”. 

“Decidi continuar como secretário de Saúde de Criciúma. Não me filiei a nenhum partido, acredito que eu poderia assumir uma cadeira na Câmara, mas nada, nada mesmo me faria tão feliz do que vencer essa pandemia. Vou ajudar a população criciumense a enfrentar essa luta que se chama coronavírus. Vamos aprender e muito com tudo isso e sairemos ainda mais fortes”, afirma. 

Acélio tem dois filhos, Samuel e Ana Carolina, tem ainda duas netas, Isabela e Flávia, e se emociona ao falar dos familiares. “Meus filhos e minhas netas são tudo que tenho de mais precioso. Tudo que fiz até aqui também foi por eles. Seguiremos lutando e buscando o melhor”, finaliza.


Foto: Thiago Hockmüller 

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