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Mobilidade urbana: apontamentos e reflexões para um plano regional

Por Em 14/12/2010 às 09:49

Ademar José Fabre *

O recente seminário realizado na UNESC, denominado Pensando a Mobilidade Urbana da Região Metropolitana de Criciúma, teve como objetivo conscientizar e sensibilizar o poder público, classes empresariais e comunidade em geral para o problema da falta de mobilidade urbana na cidade e região, o que dificulta o seu desenvolvimento, pelas deseconomias de aglomeração que proporciona.

A mobilidade urbana é entendida como “toda e qualquer ação que assegure deslocamentos de pessoas dentro do espaço urbano, para desenvolvimento de suas atividades, no desempenho de papéis diversos, variando de acordo com o meio de locomoção utilizado e a atividade exercida – pedestres, ciclistas, motociclistas, usuários de transportes coletivos, motoristas, etc.”

O Diagnóstico de Criciúma, elaborado para a Câmara Municipal, em 2008, mostra e discute o processo de conurbação da cidade de Içara com Criciúma e a tendência de ambas crescerem em direção ao Sul/BR-101, daí a necessidade de planejamento urbano em conjunto. Essa conurbação avança entre os bairros Próspera e Getúlio Vargas, tende a expandir-se nas laterais do Anel Viário e, também, com a implantação/conclusão do Porto Seco e Via Rápida.

As demais cidades da microrregião ainda não teriam, salvo melhor juízo, problemas locais de mobilidade urbana, mas enfrentam, excetuando Nova Veneza, os problemas de fluxo rodoviário intermunicipal, notadamente em direção a Criciúma e à BR-101.

Inúmeras são as causas que comprometem a mobilidade urbana da Criciúma: falta de planejamento da cidade, sistema viário linear, quase saturado, número apreciável de rodovias intermunicipais e mesmo municipais que demandam ou cruzam o centro urbano, ruas/avenidas com grande fluxo viário e uma só pista, lombadas em grande quantidade e fora dos padrões do CNT.

Registram-se, ainda, áreas de estrangulamento/gargalos em pontos localizados, como: rotatória do bairro São Luiz , acessos à Satc e Campus da Unesc, início da Rua Júlio Gaidzinski (proximidades do Hospital São José) e outros mais. Acrescente-se, ainda, a precariedade da sinalização horizontal e vertical ao longo de quase todas as vias.
Em se tratando da mobilidade de pedestres, citam-se: falta de ciclovias e espaços públicos para ciclistas, precaríssima situação dos passeios públicos - calçadas, sobretudo -- além de falta de passagens para pedestres em quadras longas, sem ruas.

A propósito das lombadas, cabe observar. Os maiores propugnadores das lombadas são os moradores de ruas residenciais. Ora, enquanto a cidade era pequena, todas as ruas eram residenciais. À medida que cresceu, as vias foram assumindo outras funções urbanas, ligando: centro-bairros, interbairros, continuação de rodovias intermunicipais ou mesmo de acessos à rodovia federal. Nesses casos, não se justifica mais o uso indiscriminado de lombadas, como ocorria na Rodovia Luiz Rosso (12 lombadas em 12 km. de pistas).

Além disso, a instalação de lombadas (quebra-molas ou onduladores transversais) deve seguir normas do CONTRAM (o tipo 2, para vias com transporte coletivo, exige largura de 3,70 metros e altura de apenas 10 cm.)

O diagnóstico já citado não vê possibilidades de resolver as questões relacionadas a mobilidade urbana com soluções simplistas, tipo elevados, passarelas e abertura de ruas no centro.

Em vez disso, aponta soluções de maior alcance e arrojadas, tais como: conclusão do anel viário, extensão da linha troncal até a Luiz Rosso, relocalização da estação rodoviária, ampliação do centro urbano, desconcentração urbana, retirada do tráfego pesado do centro, funcionamento do Porto Seco, relocalização dos trilhos da ferrovia, no Pinheirinho, duplicação da Av. Santos Dumont, além de outras.

Outra idéia, defendida naquele diagnóstico, é a necessidade de pensar em novos vetores de crescimento econômico e demográfico para induzir a cidade a crescer para além do já congestionado eixo da Avenida Centenário.

Como se vê, a problemática da mobilidade urbana é extremamente complexa, exige muito estudo, planejamento, investimentos, mas sua solução não pode mais ser adiada, no momento em que o município se aproxima dos 200 mil habitantes.

* Economista / Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano / E-mail: ajfabre@gmail.com