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Coronavírus e os riscos que o brasileiro assume de ser carrasco de si mesmo

O mundo limitando até de sair à rua a trabalho e nós aqui, aglomerando nas ruas
Coronavírus e os riscos que o brasileiro assume de ser carrasco de si mesmo
Foto: Youtube
Por Aderbal Machado Em 16/03/2020 às 07:34

A desobediência a regras mínimas de prevenção à própria segurança e saúde ou a transgressão de regras e protocolos até mundiais como no caso da pandemia do coronavírus, pode simbolizar antes de tudo mera irresponsabilidade e chegar à tragédia. Traduzindo em miúdos: as manifestações foram um risco ante o quadro conhecido. Grandes países, muito mais informados cientificamente do que o nosso e governos de todos os naipes ideológicos, inclusive EUA, adotaram providências enérgicas e drásticas ante a possibilidade de disseminação do vírus e nós aqui, jogando tudo pra cima e defendendo e participando de manifestações nas ruas, até jogando no ar piadas a respeito como se fosse piada mesmo. Os exemplos pretensamente justificadores de aglomerações de shoppings, mercados, ônibus, trens, como se isso servisse de estribo ou desculpa razoável ficam no limbo do "nada obsta". 

Bem, nenhuma novidade neste país. Onde se faz inclusive campanha nas mídias sociais contra vacinação em massa como se fosse um mal em si, por eventuais efeitos colaterais; quando muitos cidadãos impedem a entrada em suas propriedades de fiscais sanitários do combate à dengue e outros males parecidos que nos vitimam aos magotes; quando muitos, conscientemente e para evitar pagar taxas, nem ligam suas residências ao sistema de esgoto e o jogam na rua ou nos cursos d'água; quando tudo isso e muito mais ocorre, vamos admitir que estamos muito mal e podemos piorar.

Sim, foi irresponsabilidade. Julgar-se certo aqui quando países como Portugal, Alemanha, França, Espanha, Estados Unidos e China estão sob tensão e fechando fronteiras, impedindo até sua gente de ir à rua trabalhar, vedando voos internacionais, vira tudo um clima suicida.

Noutro aspecto, vê-se que, antes, o próprio presidente recomendou evitar as manifestações. Desobedeceram-no e fizeram disso um handicap (tipo "desculpa Jair, mas nós vamos"). E então temos algo incontrolável. Um líder deve ser suficientemente forte para ser ouvido quando diz sim ou não. Nesse caso, a autoridade não funcionou. Já não domina sua própria influência?

Houve uma pressão ideológica antes, durante e depois, e talvez isso tenha influenciado. É uma guerra, disseram. Apenas erraram no fato da movimentação da tropa: faltou estratégia de reação e escolheram um ataque frontal a um inimigo poderoso. 

O vírus pode não ser letal sozinho, dependendo de quem contamine. O perigo é a sua capacidade máxima de espalhar-se e chegar a quem seja dos grupos de alto risco de morte, como idosos e pessoas com doenças respiratórias ou diabéticos.Aglomerações constituem um dos principais vetores de difundir-se. Não é uma simples gripe, embora haja controvérsias sobre isso até no mundo de especialistas em infectologia. Uma simples gripe não mata tão rápido. Mas são justamente essas controvérsias que assustam ainda mais, pois provam que nem há compreensão exata do fato e do seu alcance.

O brasileiro custa a viver suas próprias limitações e possibilidades. Basta, só para completar, ver seu comportamento ante todas as leis - do trânsito à proteção da natureza. Somos, genericamente, infensos a cumprir leis, ainda que comprometendo a vida. Amantes da "adrenalina".