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Com Addo Faraco, era bom ser bom

Com Addo Faraco, era bom ser bom
Foto: Denis Luciano
Por Denis Luciano Em 10/04/2017 às 07:00

Depois de Elias Angeloni e Altair Guidi, com mandatos de 12 e 10 anos, ele foi o prefeito que por mais tempo comandou Criciúma. Addo Caldas Faraco, avô da atual secretária de Justiça e Cidadania de Santa Catarina, a deputada estadual Ada de Luca, é lembrado por um busto na Praça do Congresso. Mas a memória em nada representa o papel que Faraco representou na cidade.

“O povo reconheceu o meu trabalho”, discursou Addo, emocionado, em 23 de junho de 1971, quando a Câmara lhe conferiu o título de cidadão honorário de Criciúma. Mais de 45 anos depois, porém, o busto imundo na praça onde ele ajudou a desenvolver com o Congresso Eucarístico de 46 não parece lembrar aqueles tempos idos. 

O busto tem lama no rosto e na altura do peito da imagem do antigo prefeito, e nada que o identifique no monumento, disposto dentro da área delimitada do parquinho das crianças na praça. Algumas letras, não muito legíveis, foram pintadas na gravata de Faraco.

Quem ele foi

Addo Caldas Faraco era fluminense de Petrópolis, onde nasceu em 15 de junho de 1905. Chegou a Criciúma em 1934, como agente dos Correios até 1945. Em 19 de fevereiro de 46, assumiu a prefeitura pela primeira vez, como interventor nomeado pelo seu amigo Nereu Ramos. Permaneceu no cargo até 30 de abril de 47. Licenciou-se para concorrer nas eleições, que venceu, reassumindo o Executivo em dezembro de 47, exercendo o segundo mandato até 31 de janeiro de 1951. Na foto abaixo, do acervo de Archimedes Naspolini Filho, Faraco, ao centro, é ladeado pelos prefeitos Elias Angeloni e Cincinatto Naspolini.

É no período do seu primeiro governo que Faraco chama Criciúma de Capital do Carvão. “A um documentário cinematográfico aqui rodado, em 1948, Addo Faraco, instado a denominá-lo, o chamou de Criciúma, Capital do Carvão, a cidade do presente e do futuro. E estava cognominada naquele momento a cidade que ele adotou”, cita o livreto “Memória Popular, ex-prefeitos de Criciúma” lançado no governo José Augusto Hülse, em 1983.

De 31 de janeiro de 56 a 31 de janeiro de 61, Caldas Faraco concluiu seu período na prefeitura. Ganhou duas eleições com o slogan “Como é bom ser bom”, em tempos de marketing eleitoral ainda incipiente. Com fama de bom de voto, sempre pelo PSD, concorreu em 65 contra Ruy Hülse, da UDN, e perdeu. Na soma dos mandatos, foram nove anos comandando a cidade. 

Nos anos 70, Faraco encerrou carreira na política como vereador. Era citado por Archimedes Naspolini Filho (Criciúma, Orgulho de Cidade! 2000) como talhado para a política. “Meio gordinho, bonachão, muito simpático, não tinha inimigos. Os adversários políticos respeitavam-no”, menciona o autor. “Governou sempre de maneira empírica até porque, à sua época, o dicionário do administrador ainda não contemplava o verbete “planejamento””, completa Naspolini em sua obra.

Addo com os presidentes

Na vida pública, notabilizou-se como um grande defensor do carvão. Articulou a vinda do vice-presidente Café Filho a Criciúma, na primeira metade dos anos 50, para conhecer a realidade da indústria carbonífera na região. Ainda por conta do carvão, foi dos poucos prefeitos a conseguir audiências com três presidentes da República, conforme atesta a reprodução abaixo do livro “Criciúma 1880 – 1980: A semente deu bons frutos'.

“Era homem público de projeção e mantinha contatos com as autoridades estaduais e federais, pois foi o único prefeito de Criciúma a discursar, durante seus mandato, a três presidentes da República, quais sejam: Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra e Juscelino Kubitschek, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e também trazer para Criciúma caravanas de deputados, senadores, ministros, dos quais muitos se hospedaram em sua casa, como os ex-governadores de Santa Catarina Udo Deeke; de São Paulo, Ademar de Barros; do Paraná, Bento Munhoz da Rocha”.

Depois do último mandato como prefeito, passou a assinar artigos como jornalista. Faleceu em 16 de dezembro de 1982. Faraco foi casado duas vezes e deixou cinco filhos. Hoje, é nome de rua no bairro Michel.

Destaques dos governos Addo Caldas Faraco:
- 1946, participou dos atos de fundação da Rádio Eldorado
- 1946, ajudou a promover o Congresso Eucarístico na Praça do Congresso
- 1946, inaugurou o monumento Criciúma aos Homens do Carvão
- 1947, transformou o cemitério católico em cemitério municipal
- 1948, conseguiu a instalação do SESI em Criciúma, dando origem à FIESC
- 1948, institui o título de Capital do Carvão para Criciúma
- 1949, lidera campanha pela volta de compra de carvão pelo governo federal
- 1950, buscou recursos para a Escola Normal-Rural, atual Joaquim Ramos
- 1956, doa terreno e conclui o aeroporto Leoberto Leal
- 1957 em diante, promove construção de pontes em parcerias com a população
- 1957, empenhou-se pela abertura dos colégios Marista e Michel
- 1959, criou os distritos do Rio Maina e Forquilhinha