InternetData CenterAssinante

Serviço para homem? Mulheres derrubam tabus e ocupam todos os cargos no mercado de trabalho

Portal Engeplus conversou com mulheres que ocupam diversos cargos no mercado de trabalho
Serviço para homem? Mulheres derrubam tabus e ocupam todos os cargos no mercado de trabalho
Foto: Rafaela Custódio/Portal Engeplus
Por Rafaela Custódio Em 08/03/2023 às 11:13

‘Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações’, é isso que estabelece o artigo 5° da Constituição Federal, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, há mais de 30 anos. Mas, no dia a dia, os direitos são os mesmos? O mercado de trabalho atua de forma justa com homens e mulheres? O gênero ainda é um empecilho? São perguntas curtas, rápidas e, com certeza, a resposta será diferente para qualquer pessoa, mas não para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

De acordo com a pesquisa do IBGE, as mulheres pretas e pardas se somam às indígenas como as categorias cujo rendimento ficou abaixo dos 70% do salário médio da população. No outro extremo, situam-se os homens brancos/amarelos, com rendimento 42% acima do rendimento médio da população, seguidos pelas mulheres brancas/amarelas (8,8% acima do rendimento médio da população).

Rendimento médio das pessoas ocupadas, segundo cor ou raça e o sexo ­– valores do 1º trimestre de 2022 (em R$) 

Apesar dos dados, o Portal Engeplus buscou empresas que optam por mulheres para contratações e conta essas histórias a partir de agora. Em Maracajá, o Posto Brambila, localizado na BR-101, conta com 61 funcionários, sendo que 50 são mulheres. A ideia de contratar mais mulheres é da proprietária Maria Claudete Rocha Brambilla

“Temos o posto há seis anos. O estabelecimento era o sonho do meu marido Aníbal Brambila. Levamos 10 anos para conseguir construir esse posto de combustível e ele me deu a obra para cuidar e depois fiz parte da contratação dos funcionários, conversamos em casa e falei que se fosse para gerir o posto de combustível, eu queria contratar apenas mulheres, meu marido foi favorável e iniciamos o projeto”, explica Maria. 

A ideia da proprietária era valorizar as mulheres no mercado de trabalho. “A mulher valoriza mais o espaço, traz mais aconchego ao ambiente, a mulher tem uma visão mais ampliada dos negócios”, observa. Nas entrevistas, mais homens apareceram para as entrevistas, porém eram informados sobre a contratação de mulheres. “Nada contra os homens, mas queria que o posto fosse conduzido por mulheres em todos os setores, na pista, na conveniência, na cozinha, em tudo. Nunca fiquei com falta de funcionárias”, acrescenta. 

Maria explica que são 11 homens por uma necessidade de horário. “As mulheres dominam o estabelecimento, os homens atuam na parte de troca de óleo, filtro e também na parte da noite. Hoje, atuamos em setores 24 horas”, comenta. 

“É um orgulho como mulher criar um projeto de empresa para mulheres. Outros postos de combustíveis começaram a olhar para as mulheres e isso dá oportunidade de emprego, de um melhor salário. Valorizamos as mulheres e isso vai continuar por aqui”, afirma. A empresária ainda conta que outras empresas da família também começaram a contratar mulheres para funções que antigamente eram destinadas apenas para homens. “Temos uma transportadora e hoje temos 15 carreteiras. Elas são competentes e exercem muito bem suas funções”, garante. 

O posto de combustível é completo e possui conveniência, abastecimento de gasolina, álcool e GNV, deck com chopp, banheiros e lojas. “Para a beira da estrada recebemos muitos elogios, pois vemos no ramo de transporte e sabemos da necessidade. A gente tem um pátio de um posto grande para os caminhoneiros pernoitar com guardas e iluminação”, ressalta. 

Aline Zaboti atua como frentista e está desde a inauguração do posto de combustível. “Trabalhar com as mulheres é bom, pois temos bastante aprendizado e união da equipe. Os motoristas às vezes estranham, questionam, mas não existe preconceito e, sim, curiosidade”, conta. “Homens muitas vezes sentem medo de ensinar mulheres e nós não. Por isso, é melhor trabalhar com uma equipe feminina. Não podemos ter medo, temos que ser pacientes e corajosas para encarar o mercado de trabalho”, completa. 

Cristiani da Silva é chefe de pista e também está há seis anos na empresa. “A mulher encanta com atendimento e tentamos acolher os motoristas, principalmente, os caminhoneiros que estão longe de casa há semanas. Não sinto preconceito por parte dos clientes e nunca foi criticado”, afirma. Antes de atuar no posto, ela trabalhava como costureira. “Queria sair da área, pois não queria ficar atuando em uma fábrica. Comecei a trabalhar e tudo que sei aprendi com a dona Dete, proprietária do posto. Nós não podemos ter medo de trocar de emprego e de área. Precisamos evoluir e aprender coisas novas todos os dias”, observa. 

Comércios dentro do posto de combustível 

Maria Claudete montou oito salas comerciais dentro do posto de combustível e sete delas são destinadas para empreendedoras mulheres. “Estou há mais de um ano com a Casa da Nona. São produtos coloniais e produtos de agricultores. Estamos crescendo e evoluindo mais. Acho muito legal que o posto é formado quase 100% por mulheres, as lojas aqui também são cuidadas por mulheres, ou seja, estamos dominando o mundo”, comenta Juliana Medeiros Ronchi, proprietária da Casa da Nona. 

“Sou agricultora de Forquilhinha e sempre tive vontade de abrir uma loja para valorizar os agricultores. Temos queijos, salames, bolachas. Continuo na agricultura na colheita de arroz e também comecei a empreender. Não podemos desistir dos sonhos, sempre ir à luta e não depender de ninguém e focar nos seus sonhos”, destaca Juliana. 

Eliane Pedro é proprietária do EG Modas Masculina há um mês. “Como minha loja é masculina, o ambiente também me ajuda. Trabalho aqui 12 horas todos os dias da semana. Tenho que me organizar por meio cronograma. As mulheres precisam ter força, garra e vontade de lutar pelo o que quer, não podemos desistir no primeiro obstáculo”, observa. 

Uma das lojas é a Caminho da Fé de propriedade de Maria Claudete Rocha Brambilla, mas é cuidada também por uma mulher. “Sou muito devota de Nossa Senhora Aparecida. Temos uma capela e a imagem da padroeira do Brasil de 18 metros, o que chama atenção também. As pessoas que vêm na capela também levam lembranças, principalmente a imagem da Nossa Senhora Aparecida. A capela serve para oração e muitas pessoas utilizam”, comenta Maria.

Grasiele do Canto é proprietária da Dirigindo a Moda e está há dois anos com a loja. “Iniciamos entregando roupas em casa, mas com força de vontade conseguimos montar a loja e estamos bem. Não foi fácil empreender, mas ainda é puxado a jornada dupla, porque ainda temos casa para cuidar também. Vendemos muito bem para as pessoas que passam pelo posto. Por isso sempre digo para não desistir dos sonhos e persistir que dá certo e nunca desacreditar em Deus”, ressalta. 

Supermercado familiar abre filial apenas com mulheres 

A Super das Frutas é um supermercado familiar de Balneário Arroio do Silva. Fundado em 1994, o empreendimento se preocupa com mulheres e com a sustentabilidade do mundo. Os proprietários resolveram dar o exemplo e iniciar uma mudança no mercado de trabalho. 

“A ideia de abrir um supermercado apenas com funcionárias mulheres foi do meu irmão Lucas Salvetti. Ainda em 2023 as pessoas têm preconceito com mulheres, porque engravidam, têm bebês, amamentam, muitos maridos têm ciúmes dos colegas de trabalho e tudo isso pesou para que abrissemos um mercado apenas com mulheres. O setor mais difícil foi o do açougue, porém começamos os treinamentos há mais de um ano antes da inauguração. Temos uma outra loja no Centro de Balneário Arroio do Silva e os treinamentos aconteceram por lá. Formamos uma equipe e abrimos em novembro de 2022”, explica Gabriele Salvetti, responsável pela gestão de pessoas do Super das Frutas. 

O espaço tem três mil metros quadrados e conta com uma equipe de mais de 120 colaboradoras nas áreas de açougue, hortifruti, depósito, caixas e padarias. A Super das Frutas foi fundada por Idair Salvetti e Mara Helena Vieceli Salvetti, pais de Gabriele, há 29 anos. Hoje, ela e o irmão comandam as duas lojas da família. 

Gabriele conta que abrir a loja apenas com colaboradoras não era o suficiente e, sim, também trazer benefícios para as mulheres. “Atualmente, a legislação diz que precisamos dar quatro meses de licença-maternidade, mas aumentamos para seis meses. Depois desse período, o filho da colaboradora terá direito a um espaço de lazer gratuito financiado pela empresa até os quatro anos de idade, após esse período a criança precisa ir para a creche, não por nós, e, sim, pela legislação”, explica. Localizado próximo ao supermercado, o espaço funciona de segunda a sábado, das 7 às 19 horas. 

 Responsável pela gestão de pessoas do supermercado, Gabriele revela que nas entrevistas de emprego sempre apareciam as mesmas pessoas. “Era difícil termos colaboradores novos e percebemos dificuldade. Notamos que não poderíamos apenas abrir um supermercado com trabalhadoras e, sim, apresentar benefícios. Com isso, conseguimos pessoas novas e dispostas a fazer o negócio crescer. Nosso objetivo é também incentivar outras empresas a realizarem o mesmo”, comenta. 

Erica Conceição é promotora de vendas e trabalha no Super das Frutas há seis meses. “É um ambiente muito bom de trabalhar, temos uma equipe comprometida e é muito melhor trabalhar apenas com mulheres. Utilizo o benefício da creche e meu filho de três anos vai para o espaço todos os dias. Isso me traz segurança para trabalhar. Ele gosta muito, pois é um ambiente maravilhoso e com outras crianças”, explica. 

Gislaine Moreira de Oliveira trabalha há seis meses no mercado e atua no açougue. “Trabalho na parte dos temperados. É um ambiente bom e gosta de trabalhar apenas com mulheres. Recebi uma oportunidade da Super das Frutas, pois atuava como faxineira e me deram chance de realizar um curso e mudar minha carreira”, comenta. “Aqui a maioria tem filhos e todas utilizam a creche, pois é um espaço bom para as crianças e seguro para as mães”, completa. 

O mercado ainda conta com a nutricionista Monique Campolino para tirar dúvidas dos clientes. Ela conta sobre os esclarecimentos sobre nutrição no estabelecimento: 

Gabriele ainda ressalta sobre a frase utilizada nos uniformes das colaboradoras ‘porque somos todas mulheres?’ “Para mostrar que não somos menores que ninguém. Porque nós fazemos a mudança  que sonhamos. Uma mulher forte não tem medo de encarar o mundo, pois sabe o valor e o poder que tem. Empoderamento feminino por aqui é prática, ser sustentável por aqui é prática. Nós não contamos histórias, nós somos a história. Apoie a causa e seja a mudança do mundo”. 

A psicóloga Ester Rosa falou sobre a importância de um ambiente acolhedor para o dia a dia da mulher e também sobre a saúde mental das mulheres.