Baixos níveis em reservatórios de hidrelétricas podem aumentar demanda por carvão no Sul catarinense
ONS projeta uso maior das termoelétricas para superar seca severa no país
Foto: Divulgação/Alesc
A seca severa no Brasil pode refletir na produção das carboníferas no Sul de Santa Catarina. Com os níveis baixos nos reservatórios das hidrelétricas espalhadas pelo país, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) deve ampliar o uso de energia gerada pelas termoelétricas, o que impacta na demanda do uso do carvão mineral.
O ONS publicou na última sexta-feira, dia 27, um boletim onde informa que as afluências no mês de outubro devem ficar abaixo da média em todos os subsistemas do país. A região Sul tem a perspectiva mais elevada: 86%. Para as demais, as previsões são inferiores a 50%. No Sudeste/Centro-Oeste a estimativa é de 43%; no Norte é de 38%; e no Nordeste é de 33%.
Com isso, as termoelétricas poderão ser acionadas para gerar mais energia. É o caso do Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo (SC), para onde vai a maior parte do carvão mineral extraído no Sul de Santa Catarina
“Em julho o ONS já havia notificado a Diamante Energia, que administra o Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, sobre essa possibilidade. Agora a Diamante pediu para que as carboníferas da região façam um relatório do quanto podem aumentar suas produções de carvão”, explicou o diretor técnico do Sindicato das Indústria de Extração de Carvão de Santa Catarina (Siecesc), Marcio Zanuz.
Em até dez dias as mineradoras deverão apresentar o relatório de suas capacidades de expansão de produção. “Atualmente, as seis carboníferas que fazem parte do Siecesc produzem em média 200 mil toneladas de carvão ao mês. O relatório vai nos dizer qual a estratégia e quais investimentos precisarão ser adotado para produzir mais, caso seja necessário”, acrescentou Zanuz. A Diamante Energia ainda não definiu qual seria a quantidade que precisará de carvão mineral para atender a demanda.
Foto: Divulgação
Energia armazenada nas hidroelétricas (em 29/09/2024)
Subsistema Sudeste / Centro-Oeste – 46,82%
Subsistema Sul -55,71%
Subsistema Nordeste – 49,54%
Subsistema Norte - 74,24%
Apesar das condições que exigem atenção, o ONS não vê riscos para o fornecimento de energia no Brasil. “As projeções para o próximo mês permanecem com afluências abaixo da média nas principais bacias. Esse fator combinado com a expectativa de temperaturas mais elevadas do que o histórico para o mês de outubro deixa o SIN (Sistema Interligado Nacional) mais pressionado, principalmente nos horários da ponta de carga. No entanto, as condições dos reservatórios são compatíveis com o período e o sistema dispõe dos recursos necessários para o atendimento da demanda", afirma Christiano Vieira, diretor de Operação do ONS.
Por outro lado, a tendência é de que a geração de energia elétrica fique mais cara por conta do cenário adverso. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sinalizou que a bandeira tarifária será vermelha patamar 2 em outubro, o que refletirá no bolso do consumidor.
Serão cobrados R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Os fatores que acionaram a bandeira vermelha patamar 2 foram o GSF (risco hidrológico) e o aumento do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) que foram influenciados pelas previsões de baixa afluência para os reservatórios das hidrelétricas e pela elevação do preço do mercado de energia elétrica ao longo do mês de outubro.
Importância do carvão mineral
O diretor técnico do Siecesc lembra que apesar da importância do andamento da Transição Energética Justa, a manutenção das atividades do Completo Termoelétrico Jorge Lacerda ainda se demonstra fundamental, principalmente em momentos como os atuais de secas severas, onde as termoelétricas acabam sendo uma opção para sustentar a geração de energia.
“Quando é preciso fazer uma prevenção, ou seja, racionalizar o sistem para que não haja problemas de fornecimento, são as termoelétricas que acabam dando este suporte. Não há como abrir mão desta fonte. Mesmo que ela represente um percentual baixo no país, são em momento como este que as termoelétricas se demonstram úteis", frisou Zanuz.