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A culpa é minha

Por Em 13/04/2013 às 22:28
A maioria da população brasileira fala mal dos políticos. Mas na verdade a culpa é da falta de caráter do eleitor e não da pobreza de espírito do eleito.

Notícias de suborno pipocam na mídia, e o que ouvimos nas ruas?
“É assim mesmo...”
“O que se pode fazer...”
Pura hipocrisia, o povo de maneira geral perdeu o pudor, a vergonha. O ilícito parece ser algo comum, “aceitável”.
Mas como cobrar algo de uma população que por vezes se revela imersa no analfabetismo funcional: lê, mas não entende; ouve, mas não consegue discernir.

Também não podemos nos esquecer da mídia (TV, jornais, rádios), que por vezes dá mais espaço para o futebol do fim de semana do que propriamente para programas que possam revelar e despertar a cultura de uma nação.

Mas a culpa é minha, é sua, é nossa. Estamos acomodados, inertes, anestesiados. Ninguém quer dar o primeiro passo rumo à libertação. Afinal de contas, para que rejeitar um sistema que já está posto, “uma cultura do toma lá dá cá”, que via de regra nos favorece. Afinal de contas, argumentar com alguém e convencê-lo das minhas ideias forçará o interlocutor ao confronto. E isso é assombroso para a maioria dos políticos, pois não estão preparados para discutir com alguém que ainda consegue pensar, sem em contrapartida pedir algo em troca, a não ser o respeito.

Ainda me lembro de uma eleição, há 8 anos atrás, quando estava de férias na cidade de Florianópolis. No dia da eleição dirigi-me a devida seção eleitoral para justificar o meu voto, pois estava em trânsito. Ao sair daquele local, dirigi-me a um restaurante que ficava nas proximidades. Jamais imaginara o que estava para acontecer. Era aproximadamente 10:15h da manhã, quando uma senhora aparentando uns 60 anos adentra ao local, senta-se próximo de mim e pede um lanche. Parecia estar radiante, como que tivesse acertado os números da mega-sena. Falava pelos cotovelos...
Virei-me para ela, cumprimentei-a e disse:
_ “Que bom vê-la assim tão feliz minha senhora”.
... alguns segundos se passaram e ela com um largo sorriso nos lábios me responde:
_ “Claro que estou feliz, como poderia ser diferente, ganhei $R 1.500,00 para votar num determinado candidato. Eu e meus dois netos votamos nele.”
Tudo aquilo me surpreendeu. Parei de comer, aliás perdi a fome. Olhei para aquela “inocente” senhora e perguntei:
_ “Mas como assim, a senhora está feliz por ter vendido o seu voto?”
... e mais uma vez a franqueza dela me surpreendeu:
_ “Ontem à noite, bateram lá na porta de casa e perguntaram quantas pessoas moravam lá. No que eu respondi, eu e dois netos. Então eles me perguntaram se eu tinha candidato, e se aceitaria uma ajudinha para votar no candidato deles. Aí eu disse que sim, que qualquer ajuda era bem vinda. Logo em seguida me deram uma cesta básica, e dentro dela havia um envelope com o santinho do candidato e mil e quinhentos em dinheiro”.

Sim, foi assim que ela me contou. Aliás, não só pra mim, mas pra quem quisesse ouvir.
Diante daquela confissão espontânea, fiquei completamente sem ação. Mas logo após alguns segundos, tomei fôlego e enfrentei aquela eleitora com a seguinte frase:
_ “Mas a senhora acha correto trocar seu voto, sua consciência, por dinheiro? Que moral a senhora vai ter para cobrar deste candidato as promessas de campanha?”
...e aquela senhora me surpreende mais uma vez:
_ “Meu filho, se eu não fizer isso outro vai fazer. Então o melhor mesmo é garantir algum no bolso. Ademais, se é pra votar em alguém de graça, que nunca vai cumprir o que prometeu e que ainda por cima (se eleito) vai roubar do povo, então que pelo menos eu ganhe um troquinho antes”.

Após aquela explanação, paguei a conta, despedi-me da senhorinha e fui-me embora pensativo. Caminhei por 30 minutos pensando na célebre frase de Rui Barbosa: “De tanto ver crescer a INJUSTIÇA, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos MAUS, o homem chega a RIR-SE da honra, DESANIMAR_SE de justiça e TER VERGONHA de ser honesto.” A expressão de felicidade daquela senhora, que sem pudor anunciava aos quatro cantos que vendera o voto, foi uma ducha de água fria no meu entusiasmo e na crença de um mundo melhor.

O fato é que nossa sociedade está doente... Uma doença que nasce no coração, petrificado pelo egoísmo; se alastra pelo sangue, contaminado pela desfaçatez; atinge o cérebro, numa metástase de hipocrisia; e que por último se alastra por todo o corpo, já cerceado pela sede de poder.

Vilson Sampaio Schambeck