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Aglomerações industriais no Sul: pólos, distritos ou clusters?

Por Em 21/03/2007 às 12:57
Ademar José Fabre *

As concentrações setoriais e geográficas de empresas industriais, surgidas espontaneamente ou criadas pelo poder público – planejadas, neste caso - costumam ser chamadas, no Brasil, de pólos industriais, alguns deles implantados em áreas industriais, não raro (e impropriamente) cognominadas de distritos industriais. São os pólos petroquímicos, calçadistas, moveleiros, vestuaristas, cerâmicos e outros.

No entanto, o termo pólo, ainda tão presente nos meios empresariais e jornalísticos, expressa há muito um conceito em desuso nos meios acadêmicos, senão vejamos.

O pólo de crescimento, concebido pelo economista francês François Perroux, nos anos 50 do século passado, compreendia uma aglomeração de empresas de certa similaridade (integradas por relações de insumo-produto), dominada por uma empresa de grande porte, sem concorrentes, totalmente verticalizada (com todas as etapas produtivas na mesma planta) chamada motriz ou chave, e que exercia ação de polarização e relacionava-se com empresas menores, não necessariamente agrupadas no mesmo núcleo, chamadas movidas, também verticalizadas.

No Brasil de hoje encontram-se pouquíssimas concentrações com estas características, sendo seus remanescentes, por exemplo, os complexos petroquímicos e os químicos estatais em geral, existentes no nordeste do país.

Em Santa Catarina, a experiência de maior vulto, mas também a mais frustrante, em termos de pólo industrial, foi o Complexo Carboquímico da ICC, em Imbituba, que teve a indústria motriz funcionando por 14 anos, mas não conseguiu implantar as indústrias satélites, por razões diversas, entre as quais a falta de investidores.

Já na Europa, Japão e muitos outros países, as concentrações setoriais e geográficas de indústrias são mais conhecidas por distritos industriais, designação baseada nas concepções originais de Alfred Marshall (1890) e reinterpretadas pelos analistas italianos para estudar a realidade daquele país, após o esgotamento do modelo industrial fordista, que dominara a sua economia até os anos sessenta.

Mais recentemente, com base nos trabalhos de Michael Porter (USA) e Hubert Schmitz (Inglaterra), essas aglomerações, formando redes de empresas médias e pequenas, sobretudo, têm sido chamadas de clusters, associadas aos conceitos de especialização flexível e eficiência coletiva.

Para ter-se a clusterização (clustering) de um setor, pressupõe-se, além do agrupamento, a existência de pré-requisitos tais como: cooperação, relações técnico-produtivas das empresas, entre si e com fornecedores e compradores (cadeia produtiva), interação entre seus agentes e coesão de interesses, além de ações e serviços coletivos comuns a vários produtores, para obter ganhos de produtividade. São indispensáveis, igualmente, disponibilidade de instituições de apoio, como centros de capacitação profissional e assistência técnico-gerencial.

Numa fase mais avançada, os clusters costumam dispor de especialização das empresas por etapas de produção (integração vertical, para frente e para trás) e pesquisa tecnológica para suporte de processo/produto. Esses fatores somados, quando eficientes, proporcionam vantagens ou externalidades positivas, resultantes da aglomeração.

Trazendo a análise para a conjuntura regional, nota-se que o setor cerâmico detém grande parte desses requisitos, caracterizando-se perfeitamente como um cluster, a caminho de um estágio mais avançado, o distrito industrial. Os demais ramos (confecções, plásticos, químicos) estariam na dependência de dispor, na própria região, de alguns predicados, como: matérias-primas, insumos, alguns serviços ainda não oferecidos e pesquisa tecnológica, que os torne não dependentes de tecnologia externa.

Um bom programa de revitalização industrial do município poderia incentivar o preenchimento desses pré-requisitos, bem como criar facilidades, incentivos fiscais e financeiros para estimular o adensamento da cadeia produtiva desses setores.

* Economista / MSC em Desenvolvimento Regional - Email: ajfabre@gmail.com