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Serra da Rocinha: uma rodovia bioceânica que trará desenvolvimento e economia ao sul catarinense

Portal Engeplus conversou com lideranças municipais, moradores e visitou o trecho de SC
Serra da Rocinha: uma rodovia bioceânica que trará desenvolvimento e economia ao sul catarinense
Foto: Thiago Hockmüller / Portal Engeplus
Por Rafaela Custódio Em 10/03/2021 às 14:33

Um sonho. Esse é o adjetivo utilizado por moradores da região sul catarinense, motoristas e lideranças políticas  quando se referem à obra da BR-285, rodovia federal que liga os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foram mais de 70 anos de espera e há quase cinco as máquinas e profissionais trabalham no trecho. 

A reportagem do Portal Engeplus visitou as obras da rodovia federal e mostra a partir de agora os trabalhos realizados na via. As mudanças começaram em 2016 com a remoção da cobertura vegetal - a primeira etapa para a execução da rodovia, exigindo a adoção de uma série de medidas mitigadoras dos impactos ambientais previstos no processo de licenciamento. 


Vídeo gravado em 19/02/2021 pela reportagem do Portal Engeplus

 

A BR-285 tem 744,3 quilômetros de extensão entre Araranguá e São Borja (RS), na fronteira com a Argentina, onde se conecta com a Ruta Nacional 14 por meio da Ponte Internacional sobre o Rio Uruguai. A rodovia também desempenha papel estratégico dentro do Mercosul e destaca-se por seu forte potencial turístico.

A BR-285 se tornará uma rodovia bioceânica, pois ligará Brasil, Argentina e o litoral do Chile, que é banhado pelo Oceano Pacífico. 


Foto: Divulgação Dnit

Os dados técnicos da BR-285/RS/SC

Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) responsável pelas obras, nos 22 quilômetros do lote catarinense, os trabalhos estão 90% concluídos. Foram entregues em outubro de 2020 o contorno e a travessia urbana de Timbé do Sul, totalizando nove quilômetros de pista asfaltada, e duas pontes. Na Serra da Rocinha, oito dos 13 quilômetros já contam com pavimento rígido de concreto e barreiras de segurança. Já foi iniciada a implantação da sinalização vertical (as placas de trânsito para advertir, regulamentar e indicar a forma correta para a movimentação de veículos), e horizontal (realizada por meio de marcações no pavimento para tornar a operação da rodovia mais eficiente e segura). Também estão prontos os quatro viadutos previstos para o trecho.

Conforme o Dnit, nos cinco quilômetros finais, as atividades neste momento são de terraplenagem, implantação dos dispositivos de drenagem e pavimentação dos segmentos, onde a plataforma da rodovia se encontra na configuração final. Em relação às obras de contenção, foi concluída a estrutura prevista no trecho entre o KM 48+900 e o KM 49+000. 

Atualmente, a rodovia está fechada para o trânsito em virtude das obras, e apenas dois dias por semana o tráfego é liberado. Confira abaixo: 

Segundas e sextas

Subida: 6 horas e 18 horas

Descida: 6h30 e 18h30

Rotas alternativas:

• RS-110, que liga os municípios gaúchos de Bom Jesus e Terra de Areia (na BR-101) pela Rota do Sol; 

• RS-020 em direção a Cambará do Sul, cujo acesso pela BR-285 fica a cerca de quatro quilômetros da divisa entre RS e SC, devendo o motorista seguir pela Serra do Faxinal (RS-427 e SC-290) até Praia Grande/SC;

• BR-116, de Vacaria/RS a Lages/SC, seguindo pela SC-114 e SC-390 até a BR-101 em Içara/SC ou Sombrio/SC.

Rio Grande do Sul 

Em novembro de 2020, o DNIT lançou um edital para retomada das obras do lote 2 da BR-285, em São José dos Ausentes, na Região dos Campos de Cima da Serra. A licitação – por meio de Regime Diferenciado de Contratação Integrada (RDCi) – contempla a elaboração dos projetos básico e executivo e a conclusão dos serviços remanescentes da rodovia federal.

A empresa Planaterra-Terraplenagem e Pavimentação Ltda, que apresentou o melhor lance, venceu o edital que prevê a continuidade da implantação e pavimentação de 8,47 quilômetros da rodovia e de duas interseções, localizadas nos km 34,6 e km 36,9. Ainda serão construídos dois viadutos para a passagem de fauna e uma ponte sobre o Rio das Antas. Esta última terá extensão de 400,4 metros dividida em quatro vãos, sendo dois internos de 130 metros e dois externos de 70 metros, atravessando um grande cânion com altura variando entre 50 e 60 metros.

A empresa vencedora, a partir da assinatura do contrato - que ainda não foi realizada -, terá 900 dias para executar os projetos e as obras. Quando concluído, este segmento trará mais segurança e agilidade ao tráfego já que uma das principais funções da BR-285 é proporcionar mobilidade de longa distância.

A importância da rodovia federal para o Sul catarinense 

O empresário Airton da Silva, de 58 anos, é morador de Araranguá. Ele conta que começou a usar o trecho em 1983. “Antes era estrada de chão. Na época era bem cultivada, patrolada, bem bonita. Com o tempo, ela foi ficando muito ruim, mas o pessoal que passava aqui dava uma 'ajeitada', uma patrolada e a gente seguia em frente, mas tinha muito buraco, estava feia. Com a saída do asfalto, vai ser 100% pra nós que utilizamos a rodovia”, contou enquanto aguardava na fila do comboio para subir a BR-285. 

Silva trabalha com apicultura e utilizou a rodovia federal para chegar ao Rio Grande do Sul. “Antigamente, para subir, demorava bastante, de 40 a 50 minutos. Agora quando liberar, em 25 minutos dá pra subir. Esse asfalto vai virar um cartão postal”, projetou. 

Para o morador de Araranguá, o trecho deve melhorar o turismo da região Sul de Santa Catarina. “Para o turismo vai ajudar muito aqui em cima. Muitos não vinham pra cá porque não tinha como vir. Hoje, nós temos uma rodovia”, observou. “A movimentação da economia também teremos. Na verdade, essa Serra foi de muita valia, mesmo quando era estrada de chão, sempre foi muito usada. Com o asfalto, a tendência é só crescer, trazendo lucro pra cá, vai ajudar muito. Eu espero que cada vez seja melhor”, acrescentou. 

Assim como Silva, Edvar Barcelos, de Morro Grande, utiliza a rodovia há mais de 20 anos. “Agora está sendo as mil maravilhas, porque já tem um pedaço concluído e, daqui a pouco, termina o resto. É o que a gente espera. A importância não tem nem como comparar com antigamente. É algo lindo de se ver o que está acontecendo”, comentou. 

Para Barcelos, que trabalha com madeira, a rodovia federal estava sem possibilidades de tráfego. “Antes não tinha condições. Nós, madeireiros, que tivemos de arrumar. Fizemos uma sociedade e arrumamos, porque não tinha condições. A gente ajudou, não tinha como passar e por diversas vezes descemos do caminhão e ajudamos os moradores a arrumar essa via. Hoje, está muito melhor e tende a ficar ainda melhor nos próximos meses. A expectativa é continuar trabalhando para finalizarmos com sucesso”, relatou. 

Mas não são apenas trabalhadores que utilizam a BR-285. Turistas também beneficiam-se do trecho, como no caso de Bento da Trindade Berti, que é morador de Timbé do Sul, mas nunca havia utilizado a rodovia e subiu com Luzia Borges Longaretti, que costuma usar mais o trecho e relembrou da via. “Era ruim essa rodovia, feio de subir, não tinha como. Muitas vezes presenciei carros quebrados, pneus furados e era horrível. A cada dia melhora mais. Vamos para o Rio Grande do Sul e graças à rodovia vamos chegar bem mais rápido”, relatou Luzia. 

Desapropriações trazem movimentação na economia 

Mais de 70 famílias foram indenizadas em virtude das desapropriações de terras na Serra da Rocinha. O valor pago para os moradores ultrapassa os R$ 6,6 milhões, e o dinheiro trouxe movimentação no comércio da região sul catarinense, segundo o prefeito de Timbé do Sul, Roberto Biava.

Dircei Duarte, de 74 anos de idade, foi um dos moradores indenizados. Ele já construiu sua nova residência e um comércio ao lado. “Por enquanto, o comércio está parado, mas acreditamos que deve melhorar nos próximos meses quando liberar totalmente o trecho. No feriado de Carnaval, presenciamos mais movimentação na rodovia”, contou. 

O restaurante de Duarte existe há quatro anos. “Comercializamos caldo de cana e cultivamos banana orgânica. Vamos aumentar aos poucos, quando a rodovia estiver totalmente concluída. Moro em Timbé do Sul desde que nasci e recebi o dinheiro da desapropriação e construí minha nova casa e o comércio”, explicou. 

Duarte lembra que há mais de 50 anos a obra já era citada na região. “Recordo que quando criança já se falava sobre esta obra. Demorou, mas saiu do papel e isso vai ajudar muito a nossa região e principalmente os moradores”, destacou. 

Neri Crisanto Rosa também é morador de Timbé do Sul e sua casa fica às margens da rodovia federal. Até o momento, ele não chegou em acordo com o executor da obra. “Vamos completar quatro anos sem um acerto. Já vieram duas vezes, mas não quero conversar. Daqui não me tiram, só se pagarem. Pagamos imposto e vamos nos acertar na Justiça”, afirmou. 

Rosa ainda relatou que após a construção da rodovia federal está com medo em virtude do perigo. “Minha casa fica em curva e se um motorista se perder, pode causar um acidente feio. Faltam oito famílias para serem indenizadas”, comentou. 

Prefeito de Timbé do Sul comemora realização das obras 

O prefeito de Timbé do Sul, Roberto Biava, também visitou a obra com a reportagem do Portal Engeplus e ressaltou a importância da rodovia federal. “Uma obra que vinha sendo esperada há 70 anos. Com o trecho concluído teremos o desenvolvimento turístico, agrícola e em diversas áreas. Vejo nos olhos dos comerciantes a expectativa pela inauguração”, citou. 

A expectativa da entrega da obra na parte catarinense era para 2020, porém com a chegada da pandemia do coronavírus, os trabalhos foram atrasados. “A Covid-19 atrasou, claro, mas a cada dia de chuva, atrasa em três dias a obra e isso nos prejudica e muito também”,explicou. 

Conforme Biava, 90% das famílias afetadas com a rodovia já chegaram em acordo com o Estado em relação à desapropriação. “As indenizações passaram de R$ 6 milhões. Teremos um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), posto de gasolina, restaurantes, pousadas. Tudo isso mexe diretamente com a economia do município e da região Sul de Santa Catarina”, analisou. 

A reportagem do Portal Engeplus questionou o Dnit sobre as desapropriações, valores e prazo da obra, porém até a publicação desta matéria, não recebeu resposta.

Futuro 

O prefeito trouxe à tona uma preocupação para o futuro: a iluminação da rodovia federal. “Já foi debatido sobre a conta de energia da rodovia e o município de Timbé do Sul não irá pagar esta conta, que será em torno de R$ 15 mil por mês. Foi dado a ideia de colocar uma usina eólica e vamos aguardar os próximos capítulos”, contou. 

Ainda falando sobre o futuro, o chefe do Poder Executivo relatou que o município já está planejando como será o turismo na região. “A ideia é disponibilizar um ônibus para levar o pessoal na cachoeira ou na cascata. A intenção é disponibilizar um ônibus e um guia, mas a pandemia dificultou esse início de projeto. Mas estamos estudando e vamos trabalhar para isso acontecer”, destacou. 

Lideranças políticas comemoram obras da BR-285 

A deputada federal, Geovania de Sá, lembrou que a BR-285 facilitará a logística de quem realiza o trajeto entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “Essa rodovia terá vários pontos fundamentais que trarão o desenvolvimento para todo Estado, pois vai facilitar a logística das pessoas que precisam realizar o trajeto entre Santa Catarina e o estado vizinho”, comentou. 

Geovania ainda falou sobre a economia com a agricultura. “Imagina a agilidade que teremos na entrega do arroz, já que temos plantações no sul catarinense? Sabemos que hoje os caminhões precisam dar uma volta pela BR-282 para poder fazer a entrega da produção. A BR-285 foi realizada para porte de caminhões grandes, o que vai ajudar os caminhoneiros”, observou. “Teremos desenvolvimento social, econômico e cultural. É uma rodovia bioceânica que também vai refletir no Porto de Imbituba”, completou. 

A deputada ressaltou que está acompanhando as reuniões sobre a obra desde 2015. “É uma obra do governo federal. Acompanhei as primeiras reuniões e tivemos muitos encontros com ministros que passaram pela pasta e agora com Tarcísio Gomes de Freitas, que é o atual ministro da Infraestrutura”, destacou. 

Geovania ainda comentou o quanto a rodovia federal será importante para o turismo. “O turismo vai ficar ainda mais fortalecido com os turistas da Argentina, Paraguai, e claro, do norte do Rio Grande do Sul. Temos muito a ganhar com a via”, acrescentou. 

O deputado federal, Ricardo Guidi, comentou que desde o primeiro mês de mandato está acompanhando o desenvolvimento da rodovia federal. “Será um trecho fundamental para o sul de Santa Catarina, pois teremos uma via que servirá de escoamento para a safra de arroz e outros produtos agrícolas. Além disso, a BR-285 servirá também de passagem industrial para a Serra Gaúcha em virtude do Porto de Imbituba”, analisou. 

Ainda segundo o deputado, a rodovia federal trará ainda mais turistas para a região. “Nós temos muitas belezas naturais no sul catarinense e a BR-285 será uma via importante para trazer turistas. Com certeza, teremos um eixo de desenvolvimento com a facilidade de acessos para diversas cidades”, comentou. 

A reportagem do Portal Engeplus entrou em contato com a assessoria do deputado federal Daniel Freitas, porém até a publicação desta matéria não recebeu resposta.

Fiscalização

O trabalhador Adão Gustavo da Silva é responsável pela fiscalização da barreira na BR-285 em Santa Catarina. Ele contou* como é a rotina da rodovia, confira abaixo: 

*A entrevista com Adão Gustavo da Silva foi realizada no final do mês de fevereiro. O Dnit mudou o horário do comboio no dia 5 de março.

Uma rodovia ligada ao meio ambiente 

Para as obras na rodovia federal, o Dnit atende às exigências ambientais que conta com estudos que contemplam a área de influência, além da Licença de Instalação nº 1217/2018 emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA). A empresa STE – Serviços Técnicos de Engenharia S.A. realiza a Gestão Ambiental das obras, visando minimizar, prevenir ou compensar os impactos negativos e potencializar os positivos. São executados 24 programas ambientais que incluem cuidados com a fauna, a flora, o solo, os recursos hídricos, as populações lindeiras, entre outras ações de preservação ambiental. As medidas previstas no Plano Básico Ambiental (PBA) das obras são distribuídas entre os meios físico, biótico e social. Confira abaixo as fotos da rodovia federal: