Transportadora de Criciúma contrata primeira mulher caminhoneira
Bruna Barcelos fará a primeira viagem pela Transportes Mares do Sul nesta segunda-feira
Foto: Jessica Rosso
Aos 29 anos, Bruna Barcelos dirige um rodocaçamba, de comprimento de 25,60 metros e carga de 48 toneladas. Para ela, uma conquista, e para a Transportes Mares do Sul, uma novidade, já que é a primeira mulher que buscou a contratação na empresa, no bairro Linha Batista, em Criciúma.
“Sempre sonhei em trabalhar com isso. Desde criança eu observava meu pai, que era instrutor e operador de equipamentos pesados. E foi assim que nasceu a minha vontade. Tinha aqueles eventos que a empresa fazia uma vez por ano para acolher a família e quando eu via aqueles equipamentos de grande porte eu queria fazer a mesma coisa”, Bruna Barcelos, caminhoneira.
Bruna sempre teve o apoio de familiares e amigos para seguir adiante com o seu objetivo. A mineira conheceu o noivo, Tiago da Rosa Baldessar, de 32 anos, que também é caminhonheiro da Transportes Mares do Sul, enquanto trabalhava, já na profissão, dirigindo caminhão, em Minas Gerais. Há dois anos e meio ela veio morar em Criciúma. “Quando começou a ficar muito difícil dele ir pra lá, que as rotas não davam certo, eu decidi vir pra cá”.
A jovem também saiu do emprego para acompanhar o noivo em algumas viagens. O motivo principal era não ficarem tanto tempo longe um do outro. Isso porque essas viagens que a mineira adora fazer são longas. A última em que ela acompanhou o noivo durou 48 dias.
Mas agora o desafio é outro. Recém-contratada, hoje ela embarca para uma viagem que tem expectativa de duração de 90 dias. Vai acompanhada do noivo, que fará o mesmo trajeto, dirigindo outro rodocaçamba.
Eles saem de Criciúma e vão passar por Goiás, Mato Grosso, Minas, Maranhão e outras localidades. O trajeto é longo, e como toda profissão, enfrenta dificuldades, mas a principal é conhecida por todos que trabalham na estrada e diariamente é uma preocupação: a falta de segurança.
A mineira - que tem tatuado no braço o veículo pesado -, conta que já passou por situações complicadas, em que ficou com medo e sem saber o que fazer. Segundo ela, todo cuidado é necessário para quem viaja a trabalho, independente de ser homem ou mulher. "Já aconteceu de ele estar pagando o abastecimento no posto e eu tava na caixa de cozinha - parte do caminhão - fazendo comida e um carro se aproximou. Fiquei com medo, não sabia o que fazer".
Ela também acredita que as mulheres ainda são as mais frágeis quando a questão é segurança nas estradas. "A estrada é perigosa para homem também, mas muito mais para nós mulheres. Já passei por situações em que fiquei com medo. Não adianta dizer que mulher não é um sexo frágil. Nós não temos a força que um homem tem. Você vai descer do caminhão, vai no banheiro e tem que estar sempre observando quem está ao redor, se o banheiro tem apenas mulher, porque muitas vezes eles esperam pela oportunidade".
Bruna comenta que o preconceito em relação à mulher dirigir veículos pesados existe e ela mesma já foi questionada várias vezes se daria conta de dirigir um veículo tão grande. "A gente tem que se dar muito respeito na estrada. É uma coisa muito complicada, por exemplo, na questão da roupa eu já chamo a atenção por ser uma mulher, então tomo bastante cuidado com a forma de me vestir. Quando eles me veem no pátio de um posto, eles não sabem o que eu sou, se sou motorista, se estou ali fazendo programa. E muitos duvidam, sim, que sou motorista", comenta.
A caminhoneira até já tentou outra profissão, fez o curso técnico em Segurança do Trabalho, mas não gostou da área. Depois de tirar a carteira de motorista D, aos 21 anos, descobriu que esse amor ela quer levar para a vida inteira.
"Para mim, é a liberdade que não tem preço, não tem dinheiro que compra. Para mim, viajar é a minha paixão. Eu faria isso o resto da minha vida e não me vejo em outra profissão", afirma Bruna.
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Para o noivo, Tiago, o sonho de poder viajar juntos, fazendo a mesma rota, também é dele. "Eu acho interessante que ela tenha escolhido essa profissão. Ela trabalha certinho, é determinada e sempre teve vontade de viajar assim. A empresa já quis uma vez dar um caminhão para ela, mas não fechava a rota, então esperamos chegar o rodocaçamba para ela", destaca.
Ao ser questionado sobre a segurança nas estradas, ele admite que tem medo pela noiva. "Já aconteceu de eu ir tomar banho e quando voltar ela estar com uma faca na mão e um carro parado na direção dela". Viajar juntos traz segurança para ambos, comenta ele, que acredita que a mulher precisa estar preparada e ter uma cabeça madura para viajar na estrada. "É uma experiência para nós dois", sorri.
Tiago avalia a postura das mulheres nessa profissão como cuidadosas e eficientes. "Tem bastante mulher trabalhando como caminhoneira aqui na nossa região. Em torno de 30 mulheres. Também aprendemos com elas", comenta.
A necessidade e a acolhida na empresa
O gerente administrativo da Transportes Mares do Sul, Michael Bongiolo da Silva, explica que surgiu a oportunidade de ampliar a frota em caminhões caçamba.”Entretanto, esse tipo de veículo é para viagens em que o motorista fica muito tempo fora de casa, o que dificulta encontrar aqueles que encaram o desafio. Os nossos motoristas geralmente ficam dez dias fora, e quando retornam ficam dois dias em casa", conta.
Segundo o gerente, o noivo de Bruna, Tiago, trabalha na empresa há 12 anos e oferecer que os dois viajassem juntos, cada um em seu rodocaçamba, seria bom para a empresa e para o casal.
"Fizemos a reunião e perguntamos se ela queria encarar conosco esse desafio. E é uma oportunidade de faturamento para ela. Ter essa liberdade profissional para não depender só do marido para sustentar a sua casa. Ela tem os sonhos dela como a empresa também tem", afirma Michael, que complementa dizendo que a empresa acredita no potencial de Bruna e que ela apresentará o resultado esperado. "Acho que as mulheres têm o cuidado que o homem não tem. Elas pensam um pouco mais no que pode ser evitado, até mesmo no trânsito".
Contratação é presente de aniversário
Como Michael disse no vídeo acima, Bruna foi um presente para a Transportes Mares do Sul, que completa 28 anos na próxima quarta-feira, dia 15 de maio. A empresa contratou a primeira mulher caminhoneira faltanto poucos dias para a data. "Ela foi a primeira que nos procurou", relata o gerente.
A Transportes Mares do Sul foi fundada pelo casal Édio Luiz da Silva e Elizabete Otílio Bongiolo da Silva. É uma empresa familiar, na qual estão na gestão também os filhos Tiago e Hediel, além de Michael, que concedeu a entrevista. A empresa dispõe de 30 caminhões. Possui filiais no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. "Hoje atendemos todo estado de Minas e Rio de Janeiro, levando daqui do Sul produtos cerâmicos, arroz e matéria-prima que é o nosso carro-chefe também. A empresa transporta em média R$12 milhões por mês", ressalta Silva.
Trajetória
Os proprietários Édio Luiz da Silva e Elizabete Otilia Bongiolo da Silva decidiram montar a transportadora em 1991 nos fundos de uma casa no bairro Próspera, em Criciúma. Devido à movimentação crescente de caminhões, a empresa mudou para uma sala comercial também no bairro Próspera, e mais tarde para um galpão no bairro São Luiz. A logística e a evolução das fábricas levou a empresa a se mudar mais uma vez para um espaço mais amplo. Atualmente a sede própria está localizada no bairro Linha Batista, em Criciúma. Ocupa uma área de 10.000m².
Nos últimos cinco anos passou por melhorias."Fizemos muitos investimentos, não só em caminhões, mas em rastreamentos e assistência.No Brasil, quando o motorista para em um posto de combustivel para pernoitar ou abastecer, precisa de mais estrutura e segurança para os motoristas de caminhões. Devido à distância percorrida, existe a necessidade de melhorias na infraestrutura e o suporte ainda deixa a desejar. Então precisava ter um suporte para os motoristas. O Édio sempre pensou muito lá na frente, no empreendedorismo. Com nossos parceiros temos segurança para investir nos caminhões", finaliza Silva.
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