InternetData CenterAssinante

Santa Catarina queria virar exemplo no futebol; acabou se tornando piada

Volta do Campeonato Catarinense foi um festival de horrores e decisões erradas
Santa Catarina queria virar exemplo no futebol; acabou se tornando piada
Foto: Cristiano Estrela / Secom Governo do Estado / Arquivo
Por Eduardo Madeira Em 12/07/2020 às 11:50

A volta do Campeonato Catarinense prometia virar exemplo para o Brasil, que estava carente de um futebol local e ao vivo. Houve até quem fizesse a propaganda de Criciúma e Marcílio Dias como “o primeiro jogo da América Latina” depois da pausa da pandemia - antes de os cariocas, também apressadamente, reiniciarem seu estadual a toque de caixa. Por fim, se o torneio disputado em solo Barriga Verde virou exemplo de algo, foi do que não fazer, a ponto de ser suspenso dias depois de recomeçar.

A condição número 1 para retomar o futebol em Santa Catarina deveria ser, única e exclusivamente, o controle da pandemia. Sem isso, não deveria nem se pensar em colocar uma bola num gramado. A verdade é que a pandemia está bem longe de ter um controle. Pior: estamos no momento mais crítico no nosso estado. Muitas flexibilizações, diversas pessoas nas ruas e os números de casos, mortes e internações subindo preocupantemente.

Não era hora para voltar. Já falei disso aqui mesmo há uma semana. E esse “eu avisei” não é para me gabar de ter previsto algo que realmente aconteceu. É, sim, para mostrar o quão óbvia era essa previsão. Era tão óbvia que, particularmente, não me surpreendi ao ver o técnico Moisés Egert, do Marcílio Dias, além dos jogadores de Figueirense, Criciúma, Joinville e Chapecoense afastados por terem testado positivo para a Covid-19.

Querem comparar com outras ligas onde o futebol voltou? Na badalada Premier League, na Inglaterra, na última bateria de testes, houve um diagnóstico positivo num universo de mais de 1.500 atletas e membros de comissão técnica testados. Por lá, são dois testes por semana até o fim da temporada europeia. Na Bundesliga, a liga alemã, os testes começaram já em março, quando os jogos foram suspensos. Desde quando as partidas voltaram, nenhum clube divulgou nenhum diagnóstico positivo em seus atletas.

Quantos tivemos nos times do Campeonato Catarinense com apenas quatros jogos? E quantos foram diagnosticados antes mesmo de a bola rolar? Ah, pois é...

Hoje é fácil apontar o dedo pro protocolo, dizer que era frágil ou que não foi cumprido. Mas o erro maior foi de quem permitiu essa insanidade. Rubens Angelotti, presidente da Federação Catarinense de Futebol (FCF); Francisco José Battistotti, presidente da Associação de Clubes (SC Clubes); e André Motta Ribeiro, secretário de estado da Saúde, todos com o aval do governador Carlos Moisés da Silva, levam essa culpa nas costas. 

O governador, inclusive, falou em 12 de maio que “um eventual retorno dos campeonatos precisa ocorrer de forma segura”. Segura pra quem? Segura de que forma? Porque em relação ao avanço da doença, a situação estava longe de apresentar alguma segurança.

Foi um completo show de horrores. Uma piada muito mal contada. Ao menos houve o mínimo de sensibilidade e racionalidade de parar o campeonato antes que esse festival de lambanças coubesse numa esquete de um programa humorístico de TV.